RIO – O presidente da Transparência Internacional, José Ugaz, pediu nesta quinta-feira que o presidente Michel Temer reveja sua decisão e renuncie ao cargo e disse que sua manutenção no posto tem por objetivo «boicotar» o processo anticorrupão vigente no país.

Ugaz disse que falava em nome de entidades internacionais de combate à corrupção.

– Quero pedir que o presidente Temer reveja sua posição e que renuncie- discursou, sob aplausos, Ugaz na abertura da Conferência Ethos 360.

Segundo ele, o presidente de um país precisa ter um nivel ético elevado para estar no posto.

– A presidência de um país deve caracterizar-se por um nível ético de mais alto nível para que as estruturas de um problema sistêmico (a corrupção) comecem a mudar. E um presidente com esse nível de questionamento não está em condições de liderar um país que passa por uma crise tão severa. Temos que renovar as estruturas. A classe política fracassou – prosseguiu.

Ele também disse que as investigações contra a corrupção no Brasil apontam para mudanças necessárias no setor privado.

– Creio que essa crise de corrupção coloca o foco também sobre o setor privado. Isso exige uma mudança na cultura de fazer negócios.

Questionado se a solução para a crise política brasileira é a renúncia de Temer, Ugaz disse que não, mas que isso não pode servir de motivo para a manutenção do presidente depois que vieram a público sua conversa com o empresários Joesley Batista e as revelações feitas por ele no acordo de delação premiada.

– A saída de Temer não resolve a crise, isso está claro. Mas a sua situacao é insustentável e um sinal muito ruim para o comante da corrupção. Essa manutenção de Temer é com o objetivo de boicotar o sistema anticorrupção – disse o GLOBO.

Para ele, Temer devia sair da Presidência e se defender fora do cargo, já que alega ser inocente.

– Creio que por não haver uma alternativa a Temer não pode ser o motivo para se manter Temer. É uma falácia sustentar que o que está criando a crise é o processo antiocorrupção – argumentou.

CORRUPÇÃO SISTÊMICA

Segundo Ugaz, a rotina de escândalos no país desde o mensalão mostra que a corrupção no Brasil é sistêmica e coloca no país no nível de «grande corrupção», uma classificação mais grave que a Transparência Internacional vem adotando para apontar quadros mais graves no mundo.

Segundo ele, porém, o processo de combate à corrupção pode levar o Brasil a um novo patamar no futuro. Isso depende do envolvimento da sociedade e da renovação da classe política.

– Brasil não exporta mais só jogadortes de futebol e corruptos. mas está exportando também um modelo anticorrupção (com a Operação Lava-Jato) que está sendo observado com muito interesse em outros lugares do mundo – disse.

O presidente do Instituto Ethos, Caio Magri, concordou com Ugaz e disse que o atual governo não tem condições de continuar comandando o país e que uma renúncia de Temer poderia abrandar as dificuldades de uma nova troca no Palácio do Planalto.

– A renúncia do Temer abrandaria e aliviaria esse processo que estamos vendo que pode vir a ser o processo das ruas. Uma coisa é certa. Esse governo não tem mais legitimidade para tocar a direção do Brasil. Por outro lado, o Congresso tem 25% dos seus membros investigados. A pergunta é: ele pode fazer escolhas em nome do povo ou a gente precisa ter a população decidindo? – analisou Magri.

O Instituto defende que seja feita uma eleição direta para presidente, caso Temer deixe o cargo.

Para Magri, os agentes econômicos têm dificuldade de apoiar uma mudança na Presidência porque estão comprometidos com a aprovação das reformas da Previidência e Trabalhista. Mas ele alerta que isso não pode ser feito com o custo da impunidade.

– As organizações ainda estão de olho nas reformas que defendem. O que não é possivel é a gente negociar o crescimento econômico com a impunidade. Isso é impossível.